Uma das questões mais difíceis do cotidiano veterinário é a eutanásia. O ato que é permitido por lei afim de que se minimize o sofrimento de um animal causa muita polêmica.
A grande maioria de nós veterinários não recebe na faculdade treinamento psicológico para enfrentar este momento e poder ajudar o tutor e a si mesmo passar por um momento tão difícil, porém em muitos casos imprescindível.
Logo no início de minha carreira eu costumava sentir calafrios quando percebia que a morte se aproximava de um paciente e tentava negociar com São Francisco alguns anos de minha vida para que aquele bigodinho se recuperasse e ficasse mais alguns dias com sua família. Creio que isto ocorresse não apenas pelo meu amor e respeito incondicional a vida dos bichinhos, mas porque de certa forma eu também não estava preparada para a perda.
Quase na iminência de desistir da minha vocação por não aguentar o sofrimento assisti a uma palestra que mudou minha vida. Nascer, crescer, reproduzir, se necessário, e morrer são processos fisiológicos e inerentes à todo ser vivo. O que não é fisiológico é a dor e o sofrimento. Cada sofrimento é único e individual e deve ser respeitado e cuidado da melhor forma possível. Nós veterinários lidamos com dois sofrimentos: o do tutor e o do paciente e isto ajuda a montar uma estatística assombrosa; nossa profissão tem alto índice de suicidio.
É muito difícil para nós praticarmos a eutanásia, não é um procedimento que nos causa alegria como um parto ou prazer como ver a recuperação de um paciente que estava muito debilitado e não conseguia nem se alimentar sozinho.
Nossa conduta para indicar a eutanásia é baseada em evidências científicas de que aquele paciente não responde a nenhuma terapia existente e seu sofrimento está além do que poderia suportar, sendo que esta situação de desconforto não irá beneficia-lo ou trazer melhora. A eutanásia deve ser vista como um ato de misericórdia e amor maior por um amigo peludo que nos deu tanto amor.
Os bichinhos são nossos companheiros e é preciso respeitar o luto que sentimos quando na ocasião da sua perda igualmente a que fazemos quando perdemos um ser humano. Pessoas e animais ocupam o mesmo lugar em nosso coração, não havendo diferenças de dor quando falamos em amor incondicional que é o que recebemos quando temos um amigo bigodinho.